A vida de São João Nepomuceno, pelo Papa João Paulo II

(Texto de Luís Pontes, publicado na Voz de São João em 07/12/2013)

Frantisek Tomasek, Cardeal de Praga, sendo cumprimentado pelo Papa João Paulo II, de quem, em 1979, recebeu uma carta, mencionada neste artigo, por acasião dos 250 anos da canonização de São João Nepomuceno.

Crédito da fotografia: http://old.tisk.cirkev.cz/en/cardinal-frantisek-tomasek.html

IM_CAP_006_ILUSTRACAO O PAPA JOAO PAULO II E O CARDEAL TOMASEK

Conforme se disse há pouco nesta coluna, muitas décadas após o martírio de São João Nepomuceno, difundiu-se uma história, possivelmente apenas uma lenda, segundo a qual a sua execução se deveu ao fato de que ele se recusara a revelar, para um enciumado Rei Venceslau, os segredos da confissão de sua esposa, a Rainha Joana da Baviera. Entretanto, a própria Igreja Católica admite que essa história só viria a surgir muito tempo depois. Isso é o que se vê, por exemplo, em uma carta que o Papa João Paulo II escreveu no início do seu pontificado, em 1979, ao Cardeal Arcebispo de Praga, por ocasião do ducentésimo quinquagésimo aniversário da canonização de João Nepomuceno, ocorrida em 1729, da qual extraímos algumas passagens:

 “Ao Venerando Irmão, Cardeal FRANTISEK TOMASEK, Arcebispo de Praga.

Venerando e dileto Irmão,

No próximo dia 19 de Março, comemorar-se-á o 250° aniversário da canonização de São João Nepomuceno; celebraremos no dia 16 de Maio a sua festa litúrgica, mas de modo mais solene do que nos outros anos. Se destes acontecimentos te alegras tu, Arcebispo da mesma cidade que o glorioso Mártir ilustrou com a sua constância e tornou mais ilustre com o seu martírio; se todo o Povo de Deus se alegra contigo ao recordar um sacerdote assim venerável, não menos me alegro eu, que sempre amei com profunda piedade este herói da fé, e senti crescer a minha veneração por ele, desde quando Deus, no seu misterioso desígnio, me escolheu para ser Bispo de Roma e Pastor da Igreja universal. (…)

Se agora quisermos considerar brevemente a nobre figura do Santo, a história apresenta-no-lo primeiro como dedicando-se ao estudo e à preparação do sacerdócio; consciente como estava de que, segundo a expressão de São Paulo, seria transformado noutro Cristo, transformou a alma em templo casto do espírito. Com igual piedade foi pároco de San Gallo, na cidade de Praga; depois Cônego; e depois Vigário-Geral. Neste cargo, que o tornava de algum modo responsável pelo governo da sua Igreja, encontrou ele o seu martírio e também a sua glória. E dado que ele, mais que outros, defendeu o direito e a legítima liberdade da Igreja defronte às exigências do Rei Venceslau IV, também mais do que qualquer outro chamou sobre si as iras do monarca. Este último participou pessoalmente na sua tortura, que lhe causou a morte; depois mandou deitá-lo da ponte do rio Moldava. Assim as águas do rio foram santificadas pelo corpo e sangue do Mártir e tornaram-se a sua primeira sepultura. Isto sucedeu durante a noite de 20 de Março de 1393. A luz daquela noite difundiu-se em todo o mundo e permanece ainda vivíssima. Algumas dezenas de anos depois da morte do homem de Deus, difundiu-se a voz de que o Rei o mandara matar devido ao santo não ter querido violar o segredo da confissão. E assim o mártir da liberdade eclesiástica foi venerado também como testemunha do segredo sacramental. (…)

É verdade que o modelo dos modelos é Jesus, a quem nos envia a voz do Pai, mas também os Santos são nossos modelos, tendo amado Deus acima de todas as coisas. Pois bem, São João encarna em si o ideal do conhecedor dos Mistérios de Deus, empenhado como esteve na perfeição das virtudes, no estudo e na disciplina; o ideal de Pároco que santifica os seus fiéis com o exemplo da sua vida e com o zelo das almas; o ideal de Vigário-Geral, escrupuloso executor dos seus deveres em harmonia com a vontade do seu Arcebispo no espírito da obediência eclesial.

E agora, meu venerando Irmão, na alegria que provém da fé e da graça comuns, com todo o meu coração Te envio, assim como aos teus sacerdotes e seminaristas, religiosos e religiosas, a todos os fiéis e a toda a Tchecoslováquia, a Bênção Apostólica, pedindo humildemente ao Pai dos céus que, por intercessão de São João Nepomuceno, abra os corações à preciosa herança que ele deixou e vos cubra de todo o bem.

Vaticano, 2 de Março do ano do Senhor de 1979.

JOÃO PAULO PP. II

 

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