A velha e a nova capelas de São João Nepomuceno

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Texto de Luís Pontes, publicado na Voz de São João em 20/09/2014)

Dissemos há pouco nesta coluna que, segundo o que temos pesquisado, parece haver dois grupos de “fundadores” de São João Nepomuceno. De um lado, há os “três cavaleiros”, doadores de terras – o Guarda Mor José Antônio (Furtado) de Mendonça, Antônio Dutra Nicácio e Manuel Rodrigues de Nazaré –, todos descendentes de famílias açorianas e que supostamente se encontraram num ponto limítrofe de suas propriedades com o propósito de ali fundarem uma capela. De outro lado, há um grupo de quatro construtores do pequeno templo, formado pelo mesmo Guarda-Mor Furtado e Antônio Dutra, além de Domingos Henriques de Gusmão e Domingos Ferreira Marques.

Ao menos até onde pudemos averiguar, esta última informação – sobre os quatro construtores da capela –, aparece pela primeira vez em um precioso álbum fotográfico de São João Nepomuceno, impresso em 1916, e de autoria do italiano Roberto Capri. Neste livro, uma das personalidades são-joanenses retratadas com mais destaque é o Dr. Augusto Glória, que, 30 anos depois, em 1946, proferiria uma palestra onde ele também comentaria sobre a fundação de nossa cidade. E, nesta fala, a informação dada pelo Dr. Augusto Glória, acerca dos construtores da Capela do Rio Novo de Baixo, coincide exatamente com a de Roberto Capri. Só que, além disso, o Dr. Glória introduz o tema – não abordado pelo italiano – dos três doadores de terras que inicialmente mencionamos.

Mas, supondo que tudo isso seja verdade, ainda ficam algumas dúvidas. Uma delas é: por que será que os dois Domingos – o Henriques de Gusmão e o Ferreira Marques – também não doaram terras para a constituição do curato são-joanense? Quanto a Ferreira Marques, até onde pudemos apurar, a resposta não parece ser difícil de se obter. Este fazendeiro tinha terras bem mais para o lado da atual Rochedo de Minas do que de São João e, portanto, não possuía propriedades contíguas ao lugar onde se ergueu a capela são-joanense, e onde está hoje nossa Igreja Matriz.

Já a respeito de Domingos Henriques de Gusmão, que tinha terras bem mais próximas de São João, também temos uma hipótese que, por sua vez, se baseia em um ponto curioso levantado pelo Dr. Paulo Roberto de Gouvea Medina em um recente trabalho seu, intitulado São João Nepomuceno: um pouco de sua história, publicado em 2011. O Dr. Medina acredita ser possível que, na verdade, existiram, pelos lados de nossa cidade, duas capelas são-joanenses sucessivas. De acordo com essa hipótese, a capela originária da atual Igreja Matriz foi a segunda delas. Entretanto, provavelmente havia outra, mais antiga, e que teria sido erguida em local ignorado. Indo além, ele também cita o grande pesquisador Waldemar de Almeida Barbosa, autor do Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais, segundo o qual algo semelhante pode ter se passado em Rio Novo, onde a capela que se perpetuou na atual igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição talvez tenha substituído outra, mais primitiva e erguida em outro lugar perto dali.

Entretanto, o Dr. Medina não diz explicitamente onde essa primeira capela são-joanense porventura existiu, nem quem foram os seus primeiros possuidores ou construtores, certamente porque lhe faltaram elementos para tal. Nesse sentido, apresentamos aqui uma hipótese que nos parece bastante atraente, de, no caso muito provável dessa primeira capela são-joanense ter, de fato, existido, há uma grande possibilidade dela ter pertencido aos Henriques que por aqui já viviam: Domingos Henriques de Gusmão e seu irmão Manuel Henriques de São Nicácio, e o pai de ambos, o Alferes Manuel Henriques Pereira Brandão.

Esta família de pioneiros foi quem deu nome ao ribeirão dos Henriques. Além disso, um de seus patriarcas, o referido Manuel Henriques Pereira Brandão, talvez tenha sido um antigo proprietário da fazenda do Ribeirão, que depois teria sido, segundo nossa hipótese, adquirida pelos Dutra. O Alferes Manuel Henriques P. Brandão também era irmão do Padre Jacó Henriques, o qual foi o primeiro dono de uma imagem de São João Nepomuceno, originalmente pertencente à ermida da sua fazenda em Queluz de Minas, hoje Conselheiro Lafaiete, e que acabaria parando no altar principal da nossa igreja matriz, onde se encontra até hoje.

Há informações confiáveis de que o Padre Jacó Henriques já se encontrava na Zona da Mata, auxiliando o Padre Manuel de Jesus Maria, fundador de Rio Pomba, pelo menos desde o início da década de 1790. Mas isso não quer dizer que esse sacerdote tenha chegado à área da atual São João Nepomuceno logo que saiu de Queluz. Pelo visto, apenas algum tempo depois, é que os Henriques começaram a se instalar perto de Rio Novo e também de São João Nepomuceno, numa época em que os núcleos urbanos dessas duas cidades possivelmente ainda nem existiam. De fato, o Padre José Vicente César, um dos principais historiadores de Queluz, informa sobre algumas crônicas segundo as quais o Alferes Manuel Henriques Pereira Brandão e alguns de seus parentes teriam chegado à área próxima de São João por volta de 1791 ou, segundo o Padre César acredita ser mais provável, em torno de 1801.

Ora, os Henriques então possuíram, em nossa região, uma enorme fazenda e, naqueles tempos pioneiros, era muito comum que as enormes fazendas tivessem uma capela ou, pelo menos, uma ermida, que substituísse um templo comunitário ainda inexistente. Isso sem contar o fato de que Jacó, um dos donos dessas terras, era sacerdote, e não só podia como devia regularmente celebrar ofícios religiosos em sua propriedade.

Portanto, indo por essa linha, é provável que, a oeste ou noroeste de São João, para as bandas da atual cidade de Rio Novo, tenha havido uma capela de São João Nepomuceno desde a primeira década dos 1800 (ou mesmo um pouco antes), e que tenha sido propriedade particular dos Henriques. E uma pista sobre isso aparece nada menos do que no próprio documento de doação de terras feita pelo Guarda-Mor Furtado e sua esposa. Neste texto, datado de 27 de novembro de 1815, atesta-se que este casal estava doando “uma sorte de terras para o Patrimônio […] da nova Capela de São João Nepomuceno […]”.

Mas, ora, se o documento fala da “nova capela de São João Nepomuceno”, então é porque antes devia haver uma antiga! E, dessa forma, embora Domingos Henriques de Gusmão possuísse terras vizinhas à nossa atual cidade, talvez ele não tenha participado do encontro de seus compadres, os três cavaleiros açorianos, simplesmente porque ele já tivesse a sua capela de São João Nepomuceno particular…


IM IGREJA MATRIZ EM 1916 CAPRI

A igreja matriz de São João Nepomuceno, com um retrato do então vigário local, Padre Mário Matos, no álbum fotográfico de Roberto Capri, de 1916.

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