Os “baronatos gêmeos” de São João Nepomuceno e Juiz de Fora

CONTINUAÇÃO DE: https://sjnhistoria.wordpress.com/2017/08/03/o-trem-o-barao-e-o-ressurgimento-de-sao-joao-nepomuceno/

(Texto de Luís Pontes, publicado no jornal Voz de São João em 18/06/2016)

O dia 15 de junho de 1881, uma quarta-feira, foi uma data bastante especial para o município de São João Nepomuceno. Isto porque foi quando vários cidadãos aqui residentes ou relacionados, alguns dos quais também nascidos nesta cidade, foram enobrecidos pelo Imperador Dom Pedro II, que visitara São João menos de dois meses antes, aqui passando, junto com sua esposa, a Imperatriz Dona Teresa Cristina e uma pequena comitiva, a noite de 27 para 28 de abril daquele ano.

A visita imperial a São João Nepomuceno fez parte de um périplo que os soberanos brasileiros realizaram por vários pontos de Minas Gerais, e que também incluiu a então capital da província, Ouro Preto, além de várias outras localidades, como Barbacena, São João Del Rei, Ubá, Leopoldina e Juiz de Fora.

No caso específico de São João, um elemento bastante associado à chegada dos imperadores foi a construção da Estrada de Ferro União Mineira – EFUM –, inaugurada sem a presença dos soberanos menos de um ano antes de sua visita à nossa cidade, mais precisamente em 24 de junho de 1880. Conforme já se observou nesta coluna, a ferrovia foi o elemento que verdadeiramente fez evoluir, em caráter irrevogável, a nossa localidade, nela provocando transformações sociais e econômicas numa escala que nunca antes se vira. E isso também acabou se refletindo na emancipação política definitiva da Cidade Garbosa, ocorrida em 30 de novembro de 1880, portanto, pouquíssimos meses depois da chegada da via férrea.

Certamente consciente de tudo isso, Dom Pedro II quis, no dia 15 de junho de 1881, compensar os indivíduos que mais se destacaram naquele seminal empreendimento ferroviário. E a data escolhida para a concessão dessas honrarias não parece ter sido simplesmente casual, mas sim fruto de uma decisão consciente. Isto porque sempre foi costume, entre os soberanos do Brasil e de muitos outros lugares, distribuir benesses em dias para eles especiais, como nos aniversários dos membros das famílias reais, ou então nas grandes datas históricas de seus respectivos países.

No caso do Império brasileiro, foi num dia 15 de junho – de 1831 – que ocorrera um dramático e decisivo episódio na vida do fundador da nossa dinastia, Dom Pedro I. Naquela ocasião, o primeiro Imperador brasileiro já havia renunciado ao trono deste país, deixando-o para seu filho, Pedro II que, na época, contava apenas cinco anos de idade. E assim, o proclamador da independência brasileira confiou seu sucessor no Brasil à tutoria de José Bonifácio de Andrada, e retornou à Europa, junto com sua segunda esposa, Amélia de Leuchtenberg, a fim de se atirar a uma empresa bastante incerta e desafiadora: recuperar, pela força das armas, para sua outra filha, Dona Maria – então também apenas uma menina – o trono de Portugal, que lhe fora usurpado por ninguém menos que Dom Miguel, o irmão mais novo de Pedro I.

Na ocasião em que partiu definitivamente do Brasil – em 7 de abril de 1831 –, Pedro I já não era mais soberano, pois acabara de abdicar da coroa brasileira em favor de seu filho, Pedro II, ao passo que, anos antes, em 1826, também abdicara do trono português em favor de Dona Maria. Porém, já na Europa, em 15 de junho de 1831, o primeiro imperador brasileiro reassumiu seu título português de Duque de Bragança, próprio dos soberanos lusitanos desde meados do século 17, e com ele liderou uma bem-sucedida campanha militar para devolver o trono de Portugal a Dona Maria.

Possivelmente desejando honrar a memória de seu pai, o Imperador Dom Pedro II resolveu então, naquele ano de 1881, escolher o dia 15 de junho para distribuir diversas honrarias a seus súditos. No caso de São João Nepomuceno e de várias outras cidades suas vizinhas, como Juiz de Fora, a grande maioria dos homenageados eram representantes da elite cafeeira local, e que também haviam sido responsáveis pela criação da Estrada de Ferro União Mineira, construída prioritariamente para servir como um canal de exportação do café produzido nesta região até o porto do Rio de Janeiro.

Devido a isso, dois dos maiores acionistas da EFUM e também membros da sua diretoria – Pedro de Alcântara Cerqueira Leite e José Ribeiro de Resende – foram, naquele 15 de junho de 1881, agraciados por Dom Pedro II com os títulos de Barão de São João Nepomuceno e Barão de Juiz de Fora, respectivamente. Portanto, poder-se-ia dizer que os baronatos são-joanense e juiz-forano são verdadeiros “irmãos gêmeos”, visto que foram criados exatamente no mesmo dia, e também em decorrência do mesmo motivo: homenagear duas marcantes personalidades da Zona da Mata mineira no Segundo Reinado, que, além de terem suas famílias entrelaçadas por inúmeros casamentos e compadrios, também eram conhecidos (e possivelmente, amigos) entre si, além de também serem políticos de projeção, vereadores em Juiz de Fora, grandes cafeicultores e empreendedores da pioneira estrada de ferro.

Mas, além de criar esses dois baronatos na Zona da Mata mineira, Dom Pedro II também distinguiu diversos outros representantes das elites locais – e, particularmente, são-joanenses – naquele mesmo dia, concedendo-lhes comendas de duas veneráveis ordens de cavalaria do Império: a Ordem de Cristo e a da Rosa, conforme se verá na sequência deste texto.


BLOG PRACA DA ESTACAO JF

Acima, o largo da estação de Juiz de Fora, numa pintura de Paulo Pavel e, abaixo, o Cel. José Ribeiro de Resende, que se tornou barão daquela cidade no mesmo dia (15 de junho de 1881) em que Pedro de Alcântara Cerqueira Leite, seu colega acionista da Estrada de Ferro União Mineira, recebeu o título de barão de São João Nepomuceno.BLOG BARAO DE JF

CONTINUA EM: https://sjnhistoria.wordpress.com/2017/08/24/a-imperial-ordem-de-cristo-e-o-conego-joaquim-dos-reis-meneses/

2 comentários

  1. Parabéns pelos textos. É muito bom e importante conhecer um pouco mais da trajetória política, sociale econômica da nossa cidade.

    Parabéns pelo blog também.

    Obs: você foi, enquanto professor, e continua sendo, um grande exemplo a ser seguido.

    Abraços.

    Curtir

Deixe um comentário