A Imperial Ordem de Cristo e o Cônego Joaquim dos Reis Meneses

CONTINUAÇÃO DE: https://sjnhistoria.wordpress.com/2017/08/17/os-baronatos-gemeos-de-sao-joao-nepomuceno-e-juiz-de-fora/

(Texto de Luís Pontes, publicado no jornal Voz de São João em 25/06/2016 – reeditado)

Comentamos recentemente neste blog que, no dia 15 de junho de 1881, o Imperador Dom Pedro II criou os baronatos de São João Nepomuceno e de Juiz de Fora, a fim de homenagear dois grandes fazendeiros, empresários e homens públicos do Segundo Reinado – respectivamente Pedro de Alcântara Cerqueira Leite e José Ribeiro de Resende – que haviam também se destacado como diretores da Estrada de Ferro União Mineira, a EFUM, então recentemente inaugurada em nossa cidade.

Mas além desses títulos, e naquele mesmo dia, Pedro II também outorgou honrarias a diversos outros personagens que, direta ou indiretamente, achavam-se associados a São João Nepomuceno e à EFUM. E, nesses casos, as homenagens se deram através da concessão de comendas de duas prestigiosas ordens de cavalaria então existentes no Império brasileiro: a de Cristo e a da Rosa, a primeira das quais será brevemente tratada neste texto.

A Ordem de Cristo, na verdade, embora adotada pelo Império brasileiro no século 19, era muito mais antiga do que o próprio Brasil, e praticamente contemporânea do surgimento de Portugal como nação independente. Isto porque ela se iniciara como uma organização medieval europeia – a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão – criada no início do século 13 pelos cavaleiros cruzados que então haviam recentemente tomado a cidade de Jerusalém aos muçulmanos. Seu intuito, com isso, era proteger os peregrinos cristãos em viagem à Terra Santa. E como sua sede primitiva ficava no local de Jerusalém onde havia as ruínas do antigo Templo de Salomão, os cavaleiros dessa ordem receberam o nome de templários.

Algum tempo depois de seu surgimento, os templários, no entanto, seriam perseguidos por Felipe IV, o Belo, Rei da França, que, valendo-se do poder que então exercia sobre o Papa, obrigou este último a abolir a ordem, confiscando os seus bens. No entanto, em Portugal, os templários foram protegidos pelo então monarca lusitano, Dom Dinis, o qual conseguiu, junto à Santa Sé, reviver essa instituição religiosa e militar, e que em Portugal, “ressuscitaria” com o nome de Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O símbolo da nova ordem portuguesa, ligeiramente modificado em relação ao dos templários, era uma cruz vermelha e branca. E esta, algum tempo depois, começaria a aparecer com bastante recorrência nos navios das expedições empreendidas por esses cavaleiros para descobrir terras de além-mar para Portugal. Aliás, a Cruz de Cristo chegou ao Brasil no próprio dia do descobrimento português de nosso país, visto que então se encontrava representada nas velas dos navios da esquadra de Pedro Álvares Cabral, que aportaram na Bahia no ano de 1500. E, também foi devido a isso que os portugueses, naquela mesma ocasião, batizaram a terra por eles recém-descoberta com o nome de “Ilha de Vera Cruz”, e pouco depois, “Terra de Santa Cruz”, com que o primitivo Brasil seria inicialmente conhecido.

Ao longo de todo o Império brasileiro, a Ordem de Cristo foi usada para compensar os cidadãos, militares ou civis, que tivessem prestado relevantes serviços ao Brasil. E, no caso são-joanense, em meados do século 19 ela fora conferida a pelo menos dois personagens de destaque em nossa história, ambos do Partido Conservador: o primeiro presidente de nossa Câmara Municipal, o Desembargador Antônio José Monteiro de Barros, e também o grande fazendeiro e líder político Custódio Ferreira Leite, que depois também receberia de Dom Pedro II o título de Barão de Aiuruoca.

No ano de 1881, a comenda da Ordem de Cristo foi também entregue pelo Imperador ao então vigário de nossa cidade, Joaquim dos Reis Meneses, no mesmo dia de criação do baronato são-joanense. Além disso, cerca de um ano antes, em 1º de julho de 1880, o soberano brasileiro já havia distinguido o mesmo vigário com o título de Cônego da Catedral da Diocese de Mariana, cidade onde, segundo alguns, ele nascera em 1812. E isto fez com que o sacerdote de São João passasse a ser, a partir de então, conhecido como o “Cônego Reis”, nome que veio a batizar a rua de nossa cidade que acompanha o leito da antiga linha de trem, na saída para Juiz de Fora.

Apesar de não ter nascido em SJN, Reis Meneses por aqui já residia desde a década de 1850, tendo se tornado vigário colado de nossa freguesia em 1863, segundo nos relata o Dr. José de Castro Azevedo, o qual também informa ter visto dois interessantes documentos associados a esse religioso: uma fotografia sua na sacristia da Igreja Matriz, na qual ele aparecia com a insígnia da Cruz de Cristo que recebera em 1881, e também o diploma assinado por Dom Pedro II que lhe conferiu essa mesma honraria.

Antes de vir para São João, o padre Reis Meneses também se envolveu na Revolução Mineira de 1842, posicionando-se ao lado dos revoltosos. Isto lhe valeu alguns dissabores depois que tal levante foi debelado, porém tais problemas acabaram se resolvendo com a anistia geral concedida em 1844 pelo Imperador a todos os implicados naquela rebelião. Aliás, mesmo depois disso, o vigário e depois cônego Reis Meneses sempre se envolveria com a política local, além também de ter se dedicado a empreendimentos econômicos, visto que igualmente foi fazendeiro e um acionista da Estrada de Ferro União Mineira.

Segundo o Dr. José de Azevedo, o Cônego Reis faleceu em São João Nepomuceno em 16 de setembro de 1888, portanto, ainda durante o período imperial. Foi então sepultado no interior da Igreja Matriz de nossa cidade, onde se encontra até os dias de hoje. E, ainda na última década do século 19, por iniciativa da Câmara Municipal de nossa cidade, ele batizaria a rua que até hoje leva o seu nome.

Mas, além do Cônego Reis, outras personalidades relacionadas a São João também seriam agraciadas pelo Imperador naquele mesmo 15 de junho de 1881, conforme se verá na sequência deste texto.


BLOG INSIGNIA DA ORDEM DE CRISTO

Acima, a Comenda da Ordem de Cristo, insígnia adotada pelo Império do Brasil como uma herança da monarquia portuguesa, durante a qual essa ela também existiu, derivada que foi da Ordem dos Templários. E, nesse sentido, a Ordem de Cristo também teve, entre seus membros, os navegantes portugueses comandados por Pedro Álvares Cabral, que descobriram o Brasil para os europeus no ano de 1500, trazendo, nas velas de seus navios, a mesma cruz vermelha e branca que lhes era característica (abaixo).

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A seguir, o Imperador Dom Pedro II, que distinguiu com essa condecoração diversos personagens relacionados a São João Nepomuceno, entre os quais o Cônego Joaquim dos Reis Menezes, em junho de 1881, cerca de dois meses depois de ter feito uma visita oficial à Cidade Garbosa. E, na última imagem, um quadro do artista plástico rio-novense radicado em São João Nepomuceno,  Paulo Tavares Pável, mostrando a atual Praça Treze de Maio vista aproximadamente do mesmo lugar onde se situava a casa onde o Imperador se hospedou. E, no fundo, tem-se uma imagem moderna da Igreja Matriz, em cujo interior o Cônego Reis, antigo vigário de São João, se encontra sepultado

BLOG DOM PEDRO II EM TRAJES MAJESTATICOS

BLOG MATRIZ COM CARROÇA PAULO PAVEL.png

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