A Imperial Ordem da Rosa e seus Comendadores em São João Nepomuceno

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(Texto de Luís Pontes, publicado no jornal Voz de São João em 02/07/2016)

Em 1826, o primeiro Imperador do Brasil, Dom Pedro I, ficou viúvo de sua primeira esposa, a Imperatriz Leopoldina de Habsburgo. E, deste casamento, o único filho varão sobrevivente foi seu futuro sucessor no trono brasileiro: Pedro II, que, tendo nascido em 1825, tornou-se órfão de mãe com somente um ano de idade.

Depois disso, o primeiro Imperador casar-se-ia pela segunda vez, em 1829, com Amélia de Leuchtenberg, uma neta de Josefina de Beauharnais, a primeira esposa do Imperador dos Franceses, Napoleão Bonaparte, o qual, entretanto, a repudiara para se casar com Maria Luíza de Habsburgo, que, por coincidência, era irmã de Leopoldina, a primeira imperatriz brasileira.

Dizem que Amélia de Leuchtenberg era uma grande admiradora de rosas, que também lhe teriam servido de motivo para o rico vestido com o qual desembarcara no Brasil quando aqui chegou para se casar com Dom Pedro I. E este monarca, motivado por isso, e também pelo desejo de celebrar seu segundo casamento, pouco depois instituiu no país a Imperial Ordem da Rosa, cuja insígnia foi desenhada pelo artista Jean Baptiste Debret, um talentoso pintor francês que viveu vários anos no Rio de Janeiro, primeiro a serviço de Dom João VI, e depois de Dom Pedro I.

Ao longo do Império, a Ordem da Rosa foi conferida pelos soberanos brasileiros a um grande número de cidadãos do nosso país, como um reconhecimento por sua fidelidade ao Imperador e por seus serviços prestados ao Brasil. E, de forma análoga às demais ordens imperiais, hierarquicamente ela se dividia em diversos graus, que, em ordem decrescente, correspondiam à Grã-Cruz (que cabia ao próprio Imperador e Grão-Mestre da Ordem), Grande Dignitário, Dignitário, Comendador, Oficial e Cavaleiro.

Também conforme já dissemos, no dia 15 de junho de 1881, Dom Pedro II concedeu diversas honrarias a cidadãos relacionados a São João Nepomuceno e à construção da Estrada de Ferro União Mineira (EFUM), inaugurada em nossa cidade no ano anterior (1880). Dessa forma, naquele dia, surgiu o Baronato de São João Nepomuceno, concedido a Pedro de Alcântara Cerqueira Leite, Presidente da EFUM e um de seus principais acionistas. E também foi quando houve a concessão da comenda da Ordem de Cristo ao Cônego Joaquim dos Reis Meneses, que era o vigário local por ocasião da visita do Imperador a nossa cidade.

Porém, o maior número de distinções imperiais distribuídas em nossa cidade naquele dia referiu-se, precisamente, à Ordem da Rosa. E, entre os seus agraciados, houve dois que a receberam no elevado grau de Comendador: Virgílio Martins de Mello Franco e Francisco Ferreira de Assis.

O primeiro era então o Juiz de Direito da Comarca que incluía São João, porém tinha sua sede em Rio Novo. E, apesar deste último fato, foi em São João que o Dr. Mello Franco decidiu morar, passando a residir numa ampla casa (não mais existente) situada na atual Praça Treze de Maio, no largo da Igreja Matriz, e na qual teve a honra de hospedar o Imperador Dom Pedro II e sua esposa, a Imperatriz Dona Teresa Cristina, em sua visita a nossa cidade.

Por sua vez, Francisco Ferreira de Assis era um grande fazendeiro pertencente a uma tradicional família de Minas Gerais, e que também foi um dos maiores acionistas da EFUM, assim como membro de sua diretoria. Além disso, Francisco Ferreira também desempenharia um papel de enorme relevo em São João Nepomuceno, ao impedir um movimento surgido durante a construção da estrada de ferro, pelo qual os habitantes de Rio Novo queriam desviar a estrada para aquela cidade, evitando que ela passasse por São João. Mesmo sem ser natural de nossa terra nem aqui residir, Francisco Ferreira foi contra esta mudança, e graças a sua atitude, a estrada de ferro se manteve em São João, o que mudou o rumo da nossa história e, por conseguinte, mereceu dos são-joanenses a sua eterna gratidão.

Já no grau de Oficial da Ordem da Rosa, foi condecorado o Dr. Pedro Betim Paes Leme, o Engenheiro-Chefe da EFUM, que também era neto do Marquês de São João Marcos e pentaneto por varonia do grande bandeirante paulista Fernão Dias Paes Leme, o Caçador de Esmeraldas, que explorou os então inóspitos sertões de Minas no século 17. Embora tampouco fosse de São João, foi o Engenheiro Betim Paes Leme quem dirigiu os trabalhos de construção da ferrovia em nossa cidade, a qual ele também visitou na mesma comitiva do Imperador Pedro II, em abril de 1881.

Por fim, no grau de Cavaleiro, houve mais quatro homenageados com a Ordem da Rosa, todos cafeicultores em São João e acionistas da EFUM. Um deles era João José Medina, cunhado e genro do Coronel José Dutra Nicácio. Outro foi Joaquim Dutra Nicácio, o filho mais novo do terceiro e último casamento do Cel. José Dutra. Um terceiro foi José Soares Valente Vieira, um membro da tradicional família Vieira da Silva Pinto de Cataguases, bastante entrelaçada com os fundadores de São João Nepomuceno, como os Dutra, os Furtado de Mendonça e os Henriques. Aliás, o próprio José Soares contribuiria para o estreitamento desses vínculos: casou-se em primeiras núpcias com uma das filhas de Domingos Henriques de Gusmão, um dos fundadores de nossa cidade e, tendo-se enviuvado, consorciou-se com uma neta do mesmo Domingos Henriques: Prudenciana Faustina de São José, que foi um dos maiores nomes da educação são-joanense, tendo aqui fundado a Escola Normal que levaria o seu nome. E um quarto foi Antônio Vicente Rodrigues Guerra, que, juntamente com outros, desempenhou um destacado papel para que a Câmara de S. João Nepomuceno viesse a ter o seu prédio definitivo (então situado próximo ao largo da matriz), algo que possibilitaria a instalação do município pela terceira e definitiva vez, em 1883. 

É curioso observar que três desses vários homenageados com a Ordem da Rosa em S. João, pouco tempo depois, dariam seus respectivos nomes a antigas e centrais ruas da Cidade Garbosa: o Comendador João Medina (que nomeia o logradouro popularmente conhecido como a Rua do Buraco), o Comendador José Soares (Rua Nova) e o Comendador Francisco Ferreira. Este último batizaria uma rua que, entretanto, teria depois a sua maior parte mudando oficialmente de nome, para passar a se chamar Presidente Getúlio Vargas, conforme continuaremos a detalhar na sequência deste texto.


BLOG ORDEM DA ROSA

Acima, a Imperial Comenda da Ordem de Rosa, desenhada por Jean Baptiste Debret e supostamente inspirada nas flores que serviram de motivo para um vestido usado pela Imperatriz Amélia de Leuchtenberg (abaixo), no seu desembarque no Brasil.

 

BLOG DOM PEDRO I

Dona Amélia tornou-se assim a segunda esposa do Imperador Dom Pedro I (acima), soberano que abdicou do trono brasileiro em nome de seu sucessor, Pedro II, quando este ainda era apenas uma criança (abaixo).

BLOG DOM PEDRO II MENINO

Na última imagem, um óleo de Paulo Tavares Pavel retratando o sobrado na atual Praça Treze de Maio que serviu de residência para Dona Prudenciana Faustina de São José e seu marido, José Soares Valente Vieira. Este último, em 15 de junho de 1881, foi feito Comendador da Ordem da Rosa por Dom Pedro II. Segundo uma tradição local, foi nesse sobrado que o Imperador Pedro II teria comparecido a uma recepção na noite de sua visita a nossa cidade (muito embora não foi nele que ele pernoitou, mas sim numa outra residência, pertencente ao Juiz Virgílio de Mello Franco, que lhe estava situada quase defronte na mesma praça, sendo que ambas essas casas seriam posteriormente demolidas).

BLOG CASA DONA PRUDENCIANA PAULO PAVEL

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2 comentários

  1. Olá meu nome é Jussara,tenho lido esta coluna pois tenho minhas raízes neste terra de Carlos Alves .
    Só uma correção humilde a fotografia não é a imperatriz Dona Amélia e sim sua filha a Princesa Maria Amelia conhecida como princesa Flor que faleceu ainda muito jovem na ilha do Funchal.

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