A tardia formatura em direito de Antônio Jacó da Paixão, e a ascendência “são-joanense” do Governador Fernando Pimentel

CONTINUAÇÃO DE: Antônio Jacó da Paixão: o deputado liberal que, em 1880, conseguiu a emancipação definitiva de S. João Nepomuceno, onde ninguém mais se lembra dele

(Texto de Luís Pontes, publicado no jornal Voz de São João em 09/05/2020 – reeditado)

Estávamos comentando, nesta coluna, sobre Antônio Jacó da Paixão, o advogado e deputado liberal que liderou a bem-sucedida campanha pela emancipação política definitiva de São João Nepomuceno em 1880. Foi quando também dissemos que, apesar do protagonismo que desempenhou, ele injustamente acabaria desaparecendo da história de nossa cidade, já que esta última veio a ser escrita principalmente por seus adversários políticos, que eram os membros do partido conservador…

Mas também observamos que Jacó da Paixão era oriundo de uma família relativamente modesta, cujo pai era um comerciante estabelecido em Bom Jesus do Rio Pardo (atual Argirita), localidade que, por ocasião do seu nascimento (em 1842) pertencia a São João Nepomuceno.

No livro que trata de sua biografia, escrito por seu filho, o Dr. Constante Leal da Paixão, há também um depoimento de sua mãe, D. Maria Eudóxia de Miranda, segundo o qual Antônio Jacó “fora sempre o mais ajuizado de seus filhos, aprendera a ler com facilidade e, apenas conhecendo as quatro operações de aritmética, passou a caxeirar o negócio que Antônio Júlio, seu pai, montara em Rio Pardo”.

Quando Jacó da Paixão completou 21 anos de idade, seu pai ajudou-o a montar uma venda própria, também em Rio Pardo, que ele dirigiria até os 25 anos. Mas, ao atingir tal idade, nosso biografado, ainda solteiro, tomou uma decisão que mudaria radicalmente sua vida: resolveu abandonar sua venda no interior e voltar aos bancos escolares. Dessa forma, chegou a se matricular numa escola em Mar de Espanha, porém esta pouco depois fecharia suas portas. Com isso, Jacó da Paixão resolve então ir estudar na capital do país, o Rio de Janeiro. Porém, com a exceção de seu pai, todos os seus conhecidos tentaram dissuadi-lo de tal ideia, dizendo-lhe que ele “era já idoso, para em meio de crianças, iniciar seus estudos. Não se habituaria à disciplina escolar, às tarefas colegiais, etc.”

No entanto, sempre determinado, Jacó da Paixão mudou-se para a Corte, onde frequentou os externatos do Colégio Aquino e do Mosteiro de São Bento, duas instituições bastante conceituadas naquela época. Com uma grande facilidade para a matemática, obteve afinal um diploma de magistério, então equivalente a um curso de nível médio. E para ser aprovado, foi avaliado, como todos os seus colegas, por uma banca de examinadores, da qual fazia parte Benjamin Constant, que, tempos depois, seria um dos maiores líderes do golpe republicano de 1889.

Formado professor quando já se aproximava dos 30 anos de idade, Jacó da Paixão decide então continuar sua vida acadêmica, e matricula-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Para esta cidade então se muda em 1871 e, neste ponto, ocorre mais um fato curioso em sua vida: Na capital paulista, ele passa a morar com um amigo, que também se tornaria seu sócio, visto que ambos abririam juntos uma farmácia. E este último era ninguém menos que João José Prestes Pimentel, sobre quem já comentamos mais de uma vez nesta coluna.

João José Prestes Pimentel foi um farmacêutico que viveria em São João Nepomuceno algum tempo depois de sua estadia em São Paulo. E, aqui, ele se tornaria o primeiro (e então, único) vereador republicano de nossa história, na legislatura de 1887, a segunda após a nossa emancipação definitiva e também a última do período imperial. E Prestes Pimentel também se tornaria o primeiro chefe do governo são-joanense no período republicano, ao assumir, de improviso, a presidência da nossa Câmara Municipal em 16 de novembro de 1889, portanto, no dia seguinte ao da proclamação da república. Contudo, como também já observamos anteriormente, Prestes Pimentel somente se manteria nesse cargo por menos de uma semana. Depois disso, seria tirado do poder por outras facções que também disputavam o controle do nosso município, e que eram muito mais articuladas com o governo estadual mineiro do que ele. E assim, e de modo perfeitamente análogo ao de seu amigo Antônio Jacó da Paixão, o combativo vereador Prestes Pimentel também seria mais um importante personagem da nossa história que sumiria das crônicas municipais são-joanenses…

Mas outro ponto curioso é que Antônio Jacó da Paixão e João José Prestes Pimentel, além de terem morado juntos, sido amigos e sócios em São Paulo, também se tornariam cunhados. Isto porque o segundo acabaria se casando com uma das irmãs do primeiro, Maria Júlia da Paixão, com quem ele teria sete filhos. Um destes chamou-se Euclides da Paixão Pimentel, tendo nascido em São João Nepomuceno em 1882, quando seu pai já aqui residia.

Esse Euclides veio a ser o pai de Miguel de Carvalho Pimentel, nascido em 1919 e que, por sua vez, foi um pastor da Igreja Metodista e criador da loja Belo Horizonte Couros. Por sua respectiva esposa, D. Geralda da Matta, Miguel Pimentel veio a ser o pai de Fernando da Matta Pimentel. Já este último, nascido em Belo Horizonte em 1951 e formado em Economia, foi Prefeito da capital mineira (entre 2001 e 2009), Ministro do Desenvolvimento no governo de Dilma Rousseff (de 2011 a 2014) e Governador de Minas Gerais (de 2015 a 2018) pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Como se vê, portanto, a inclinação pela política, e especialmente na sua vertente de “esquerda”, parece ter sido uma tradição da família Pimentel, desde os tempos imperiais em que ela residia em São João Nepomuceno (ou mesmo antes) até os dias de hoje…

Esse lado “contestador” dos Pimentel já se antevia desde quando o bisavô do governador mineiro ainda morava com Antônio Jacó da Paixão na metrópole paulistana. Isso porque, naquela época, ainda no início da década de 1870 e em pleno período imperial, Pimentel era já um republicano convicto. E, algum tempo depois, persuadiria seu velho amigo e cunhado a também abraçar a causa da república, ainda durante o Segundo Reinado.

Porém, a conversão de Antônio Jacó da Paixão à república somente se daria em 1886, pois, antes disso, ele militava nas fileiras do partido Liberal. E foi exatamente quando ainda era um deputado liberal, é que Jacó da Paixão enfim tomaria as rédeas do movimento pela emancipação política definitiva são-joanense, conforme se verá em mais detalhes na sequência desse texto.


FACULDADE DE DIREITO DE SP E FERNANDO PIMENTELÀ esquerda, a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde se graduou Antônio Jacó da Paixão. Enquanto lá estudava, ele dividia uma casa e também a sociedade numa farmácia com seu então futuro cunhado, João José Prestes Pimentel. Este último depois se mudaria para São João Nepomuceno, tornar-se-ia seu 1º vereador republicano (ainda no Império) e também o 1º dirigente (improvisado) após a proclamação da república, além de ter sido o bisavô por linha masculina do Governador de Minas, Fernando Pimentel (à direita).

CONTINUA EM: Os vários tamanhos da cidade de São João Nepomuceno

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