O início do funcionamento da Câmara Municipal de S. João Nepomuceno após a sua emancipação definitiva, em meio a um notável período de sua história

CONTINUAÇÃO DE: A primeira câmara municipal são-joanense após a emancipação definitiva do município

(Texto de Luís Pontes, publicado no jornal Voz de São João em 17/06/2023 – reeditado)

Comentávamos, nesta coluna, que, no final de 1882, São João Nepomuceno elegeu sua primeira câmara de vereadores para compor a legislatura local que iniciaria seus trabalhos no ano seguinte, após ter alcançado a sua emancipação definitiva em 1880. E, dessa forma, a posse desses novos representantes do povo (leia-se da classe dominante e masculina local) corresponderia, finalmente, à retomada prática da autonomia municipal perdida duas vezes antes, nos anos de 1851 e 1870.

Um dado curioso é que o 1º escrutínio dessa eleição, conforme também já informamos, deu-se no dia 25 de setembro de 1882, uma segunda-feira, a qual, naquela mesma ocasião, coincidiu com um evento bastante especial ocorrido em nossas redondezas. Exatamente naquele mesmo dia, encontrava-se em excursão por essas bandas um dos genros do Imperador D. Pedro II, que vinha a ser o príncipe Gastão de Orléans, o Conde d’Eu, conforme também já detalhamos anteriormente nesses escritos. Naquele mesmo dia da eleição são-joanense, o marido da Princesa Isabel chegava à vizinha cidade de Rio Pomba, de onde pouco depois partiria para o então distrito rio-pombense de Guarani, onde se demoraria por mais alguns dias. Até que afinal ele se deslocaria a cavalo até S. João, aqui chegando exatamente uma semana depois das nossas eleições, também numa 2ª-feira, dia 2 de outubro de 1882. Entretanto, precisamente na véspera do Conde d’Eu vir para São João, ele fora informado por um telegrama da Princesa Isabel acerca da morte do mordomo de ambos, o Major Benedito de Almeida Torres, numa fazenda em Leopoldina, onde este último teve que ficar por motivo de doença algumas semanas antes, enquanto acompanhava o Conde d’Eu naquela viagem pela Zona da Mata mineira. Com isso, o príncipe francês resolveu antecipar seu retorno à Corte do Rio de Janeiro, demorando-se apenas algumas horas em S. João Nepomuceno, o que deve ter causado uma enorme frustração entre aqueles que esperavam recebê-lo por mais tempo em nossa cidade.

Mas, a passagem do Conde d’Eu por nossa região naquele momento era somente mais um dado relevante que se somava a vários outros que então se desenrolavam por aqui naquela mesma conjuntura, um dos quais, naturalmente, era a nossa eleição municipal. Outro ponto de destaque era que, naquela mesma ocasião, encontravam-se já bastante adiantadas as obras de construção da 3ª seção da Estrada de Ferro União Mineira (EFUM), entre S. João Nepomuceno e Guarani, quando faltavam poucos meses para que esta última localidade tivesse inaugurada sua respectiva estação ferroviária, do mesmo modo que a de Furtado de Campos, situada no meio desse caminho. E, na já construída e operante 2ª seção da EFUM, mais precisamente entre Bicas e Roça Grande, estava também prestes a ser fundada a estação do Rochedo, que daria origem a um novo distrito são-joanense do mesmo nome, o qual se tornaria uma cidade emancipada em 1962.

Mas como se tudo isso não bastasse, aqui em S. João estava se finalizando a construção e reforma dos novos prédios públicos que abrigariam a nova administração municipal, o que possivelmente também contribuiu para que aquele período fosse de consideráveis esperanças e otimismo para os são-joanenses, em meio ao “renascimento” de seu respectivo município.

A posse dos novos vereadores são-joanenses ocorreu já no início do ano seguinte, mais precisamente num domingo, 7 de janeiro de 1883, segundo consta do 1º livro de atas da nossa câmara produzido desde a obtenção da emancipação definitiva. E lá também se informa que um papel de destaque naquela cerimônia foi desempenhado pelo Tenente José Pereira de Araújo Pinto, um dos vereadores eleitos, pertencente ao partido Conservador. Naquela ocasião, Araújo Pinto era já um político veterano, tendo inclusive sido nada menos do que presidente da câmara municipal de Rio Novo na legislatura 1873-76, a primeira de fato eleita naquela cidade desde quando ela passara a ocupar a sede do município antes sediado em S. João Nepomuceno. Mas, além disso, Araújo Pinto era o de mais idade entre os nove vereadores de S. João. E isso tudo fez com que, antes da cerimônia de 7 de janeiro, ele já tomasse posse em Rio Novo, para assim, depois, empossar seus novos colegas na câmara são-joanense, da qual ele se tornaria o 1º presidente.

Além de Araújo Pinto, também eram conservadores outros quatro novos vereadores, o que tornava esse partido majoritário naquela primeira legislatura: o dr. Carlos Ferreira Alves, João Batista de Alvarenga, José Lopes de Faria e Francisco de Paula Moreira de Mendonça. Já os liberais eram em número de quatro: Joaquim Clemente de Campos, o comendador João José Medina, Joaquim Gonçalves Barroso e o dr. Joaquim Antônio Dutra. Todos eles seriam investidos em suas respectivas funções por Araújo Pinto naquela sessão inaugural de 7 de janeiro, com exceção do comendador João Medina, que, por motivos que desconhecemos, não pôde estar presente àquela cerimônia, porém tomaria posse sozinho no dia seguinte. E o que então aconteceria nos primeiros tempos de funcionamento dessa nova câmara são-joanense, é o que se verá com mais detalhes na sequência desse texto.


Acima, o Conde d’Eu, que visitou S. João Nepomuceno exatamente uma semana depois da realização da 1ª eleição para vereadores desta cidade desde a sua emancipação definitiva. Abaixo, a folha de rosto do 1º livro de atas da Câmara Municipal são-joanense desse mesmo período. Nela, se lê: “Este livro servirá para as atas das sessões da Câmara Municipal da Cidade de S. João Nepomuceno, e vai por mim rubricada cada folha com a rubrica Araújo Pinto./Cidade de S. João Nepomuceno, 7 de janeiro de 1883/O Presidente da Câmara/José Pereira de Araújo Pinto” (sendo que, acima, à direita, vê-se a primeira dessas rubricas). (Última imagem: acervo da Câmara Municipal de SJN).

CONTINUA EM: A eleição do presidente da câmara são-joanense e de seu vice em 1883

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